Faleceu. Esta palavra ecoa nos nossos ouvidos e é bastante difícil processá-la de imediato. Achamos que ouvimos mal. Então, perguntamos novamente e ouvimos o mesmo. Faleceu. A nossa energia como que instantaneamente desaparece ou reduz significativamente. Depois tudo varia de acordo com a proximidade à pessoa, a surpresa ou o esperado, a nossa forma de reagir a situações emocionalmente intensas. A partir daqui surge uma série de questões, uma delas é: e agora, o que faço?
Se faleceu algum familiar de um amigo ou de um familiar nosso, ficamos sem saber se devemos ligar, aparecer ou aguardar. Quando estamos com eles, ficamos sem saber o que dizer para os reconfortar. É difícil saber qual a melhor atitude. Mas porquê esta dificuldade? Talvez porque não podemos fazer nada para mudar o acontecimento ou talvez porque as pessoas reagem de forma diferente à perda ou, ainda, porque dentro de tanta tristeza, é difícil reconfortar, apaziguar a dor.
Outro aspecto interessante diz respeito ao que se deve ou não deve fazer nestas situações. Uma delas é clara: não atender o telemóvel durante o funeral (parece surreal, mas eu vi isto). Muitos acham que o luto tem de implicar silêncio e por isso nada de música, nem televisão. Muitos acham que o luto passa por usar roupas escuras, semblante cerrado e pouca actividade social. Parece que só estás de luto se mostrares tudo isto. Parece que as pessoas esquecem que há todo um conjunto de processos que vão surgindo à medida que o tempo vai passando.
Tempo. É verdade que existe um tempo para ultrapassar o luto? Muitas vezes se ouve, "ai e tal, o marido faleceu há 3 meses e já anda com roupa colorida" ou então "passou-se um ano e ainda tem as coisas tal e qual como ele as deixou". Qual será o tempo do processo de luto? Não há tempo definido. Será que esse processo termina ou a pessoa aprende a viver com a situação?
Outro aspecto importante é a sobreprotecção das pessoas junto dos mais frágeis e que sofrem directamente a perda. Esta sobreprotecção é bem intencionada e surge com o intuito de minimizar o sofrimento à pessoa. Mas é importante respeitar a vontade da pessoa. Se ela quer velar o ente querido que faleceu, deixem-na ir. Se quer ir ao funeral deixem-na ir. Pode ser importante para o seu processo de luto. No entanto, o oposto também deve ser respeitado. É importante falar sobre isto. É importante perguntar: Como queres fazer? E se a pessoa entretanto mudar de ideias, é importante que seja capaz de o expressar e também de ser ouvida. Apesar de não se saber muito bem o que é mais correcto (se é que há certo ou errado no meio disto tudo, exceptuando a parte do telemóvel, claro), é importante comunicar.
Há tempos, pensava que as pessoas precisavam que respeitassem o seu espaço durante um velório ou funeral. Achava abusivo o facto de aparecer um mar de pessoas e dirigir-se à família sofrida e cumprimentar e tentar que falassem. Mas apercebi-me que essa presença é importante. Ajuda a suportar um bocadinho mais a dor, a sentir que somos queridos, a exteriorizar o que sentimos e guardamos junto ao nó na garganta que insiste em não desatar.
Esta questão do luto é bastante complexa e cultural, também. Mas penso que estas fases estão sempre presentes: negação, raiva, negociação, depressão e aceitação (teoria Kubler-Ross). Os amigos, os familiares serão sempre importantes para nos ajudar. Muitas vezes, pode ser benéfica a consulta junto de um profissional. Penso que é importante "deitar cá para fora" o que nos vai na alma e no coração. Como? Não há uma solução milagrosa, mas são vários os caminhos possíveis.